domingo, 17 de abril de 2011

Não faz sentido algum.


Não quero escrever esse texto. Estou resistindo aterradoramente à vontade de largar aqui essas palavras. Não quero. Sei que as constatações que vou fazer agora não vão me deixar dormir hoje mais tarde. A cama se tornará inóspita. Não quero. Não posso me despir dessa armadura. Mas é isso que são os textos, não? Segredos revelados. Ou então, desabafos que tendem a nos esvaziar de toda a loucura. Mas não. Isso aqui vai me matar. Eu te deixei.  Eu te deixei por medo, por fraqueza, pela não redenção, pelo temor de me esfacelar. E foi isso que você fez comigo. Me esfacelou. E minha vontade de alguém assim não era maior do que meus esconderijos que se estendem ao longo de tudo que eu sou e de tudo que me forma há esses tão longos anos. Você me descobria. E isso é tão errado. Sei que foi o que pedi a Deus, mas é tão errado! Tem isso de que às vezes não sabemos o que queremos. E que dor eu sinto agora. Vou deixar que essas palavras passem pelas minhas mãos e escorram no papel. Melhor que eu as deixe ir junto com as lágrimas que vão me livrar desse peso. Faz mais sentido agora. Mas a dor não passa. Eu li inúmeras coisas sobre a vida. E ler não é sentir. Ler não é entender. Por mais que as palavras te absorvam, ler sobre uma situação não é vivê-la. E tenho me arrependido de todos os pedidos que fiz de alguém assim. Era alguém como você. E talvez eu devesse me arrepender apenas de ser incapaz. Eu devia me detestar por ser incapaz. E eu sou! Porque eu não sei dormir sem pensar, não sei agir sem antes calcular, não sei simplesmente me entregar. Isso é incapacidade em muitos termos. Mas principalmente incapacidade em ser feliz. Posso fingir, posso desejar, posso querer e posso até lutar por aquilo que tanto quero. Mas não posso ser feliz porque não me permito. Porque me escondo. E isso é tão intrínseco que você apareceu e eu logo enterrei minhas verdades, contornei meus túneis, cavei outras cavernas aqui e ali. Eu sou toda de bifurcações. De enredos programados. E a partir do momento em que você colocou tantas dinamites nesses caminhos cruzados, eu não suportei mais a tua presença. E fujo. Não só mais de mim, mas agora também de alguém que descobriu coisas antes impensadas ao meu respeito. Tenho um problema agora. E poderia simplesmente esquecer, mas isso não funciona comigo. O que funciona mesmo, insistentemente, são essas imagens que rondam minhas memórias, essa saudade que vai se acumulando. E às vezes me dou conta dela. Eu tento o tempo todo me esquivar. É maior, mais forte que eu, é automático e processual atualmente. Eu fujo das coisas que não posso encarar. Ou então as encaro com palavras. Como essas. Minha forma de fugir das coisas é fechar os olhos com a cabeça no travesseiro e não entender porque foi assim e não de outra forma. Vez ou outra cai uma lágrima. Vez ou outra choro na rua, no ônibus, no meio do trabalho, no banheiro. Choro fazendo coisas que nem deveriam me remeter a dor. Mas ela me acompanha o tempo todo por estar dentro de mim. Me desculpe por não poder ter você de volta. Por não lutar contra isso, mas por ter a vontade de lutar caso pudesse escolher por fazê-lo. Me desculpe, outra vez. Acho terrível o que tenho feito. Pura hipocrisia. Ter e não querer mais. Alcançar e desistir. Deixar de lado depois de usar. Era o que você mais detestava. Mas sou mesmo feita de contradições. De não aceitações. Sou feita de ir embora repetidas vezes. E já chega por hoje.

terça-feira, 29 de março de 2011

Tenho te visto em rostos disformes. E tenho te odiado com certa frequência. Não posso aceitar. Não sei acreditar. Sempre que volto a esse ponto, um nevoeiro se cria em minha mente. E lá estava eu dizendo que não precisava disso, que te largaria, que era capricho. Eu tinha enxergado tudo, entende? Eu tentei seguir o caminho sensato. Mas nunca faço as escolhas certas. Nunca soube me negar ao teu sorriso. E eu te odeio. Eu que sempre fui de palavras fáceis, de conversas longas... Agora pouco falo. Agora os argumentos me cercam e me afugentam. Eu disse não. Deixei de ser racional por um milésimo de segundo e veja aonde chegamos. Veja o que perdi. O espelho que antes me mandava ser feliz agora me manda seguir em frente. Era o mesmo pedido. Eu que fui ingênua ao pensar que a felicidade era ao teu lado. Antes tivesse passado reto, não parado no caminho, não olhado ao redor. Não visto aquela vez que a tua presença era o que me dava o que há muito tempo eu não tinha. E de verdade? Eu nunca tive nada. Eu nunca tive alguém para olhar nos meus olhos e dizer que era eu. EU. Fugi disso. Tive cada um dos meus dezessete anos para fazê-lo. E segui perfeitamente bem a lição. E te ver causava esse arrependimento. Causava a sensação de que as coisas estavam fora do lugar, de que o tempo estava sendo mal aproveitado. A sensação de que meu medo, minha carência e descrença estavam em suas horas finais. Eu já tinha contado nossos dias no calendário. Não duraria. Nasceu com dia certo para morrer. E eu te pediria desculpas por isso. Mas o que eu fiz não chega nem perto do quanto estou sofrendo agora. E fui capaz de achar que os outros não tinham sido dignos o suficiente para estarem em teu lugar. Mas olhe só para você! Alguém, por favor, olhe para mim e me diga o que é que estou fazendo ao chorar por nada. Alguém, por favor, me abrace agora e diga que sou mais do que isso. Não sei mais sofrer em frases. Quero um abraço que cure tudo. Um conselho que extrapole o “vai passar”. Não me encaixo mais em metade dos aspectos sobre os quais eu entendia. Cada vez que as coisas se tornam difíceis, elas doem mais do que toda a dor que sentimos ao longo de uma vida inteira. E não sei lidar com isso que sinto agora. Costumei chorar por não ter escolhido. E agora, escolhi errado. E aqui estou eu. Tentando buscar qualquer coisa que não remeta ao que pensei que seria perfeito. Ao que pensei ser um grande achado. Se me vir na rua, peço que finja que não conhece. Já me estraguei o suficiente para o ano inteiro. Nunca mais quero te ver.